Crônica de um domingo de ramos
Edson Gonçalves Ferreira
Jesus entrou em Jerusalém hoje e muita gente não percebeu.
Nem sempre a forma é a mesma, o importante é a imagem que o coração traça. Para mim, ele, à noite, chegou através do telefone, transfigurado na imagem de Sônia Ortega. Havia um coro de anjos por detrás das linhas cruzadas entre o Brasil e o Japão, formando a procissão da entrada solene Dele na minha casa.
Às vezes, quem tem olhos não vê. A Claraluna é uma espécie de Maria Madalena, a discípula de Jesus, não a pecadora. A Igreja distorceu e muito a imagem da mulher. Claraluna é a preferida de Jesus neste dia,tanto que Ele a escolheu, através da minha insignificante pessoa, para gerir a Ciranda Pascal. Afinal, nós, autores do Recanto, somos todos discípulos do Mestre.
Quando recebo notícias de Celina Figueiredo, lembro-me de Sant´Ana, a mãe de Nossa Senhora e, então, apaziguo. Quando Lúcia, a Fernanda, diz que reza comigo, sinto-me como se a própria Nossa Senhora falasse comigo. As mulheres são tão divinas que, às vezes, se esquecem e muitos homens tolos não percebem isso.
É assim que me preparo para viver a Semana Santa, sabendo que, amanhã, estarei mais próximo do Calvário. Todos nós caminhamos para ele. Crucificados nós somos todos os dias pelo tempo e por línguas que, às vezes, ainda não aprenderam que elogiar é mais bonito que criticar. Assim, também, muitas pessoas não aprenderam que as mãos são quentes para o prazer do carinho.
Aqui, em Divinópolis, tenho amigos e amigas muitos amadas: Suzana Cordeiro Andrade Gripp, Dadinha Hurtado, Maria Ad´ma Nogueira Rodrigues, Maria Alice Faria Iseri, Ione Assis, Lindolfo Fagundes, Mercemiro Oliveira Silva, Juvenil Teles de Oliveira, Eliana Cançado Ferreira, Cláudio e Natália Castro, Zélia e Cecília Brandão Vieira, entre outros. Sou como Jesus festejado por elas e eles quando entro em qualquer lugar. Sinto-me como Cristo ao entrar em Jerusalém, isso porque amo as pessoas incondiconalmente, menos os falsos. Prefiro o tapa na cara que o beijo de Judas.
Agora, neste momento, preparando-me para o término do Domingo de Ramos, lembro-me, perfeitamente, da imagem do menino Edson, de batina, coroinha, carregando uma cruz enorme nas procissões antigamente. Inocente, não sabia da Cruz do mundo. Todos nós carregamos uma cruz. Hoje, eu conversava com as maestrinas Maria Cecília Guimarães dos Santos e Djanira Luiza dos Santos, preciosas amigas que, como eu, gostam da Bela Música.
Tenho até um CD em que Cecília, Adélia e Terezinha Prado e suas irmãs interpretam canções lindas da tradição cristã. Todas elas se parecem com as primeiras discípulas de Cristo. Pedi a Djanira uma cópia da Harpinha de Sião. Quem não conhece, passe a conhecer: um livro precioso com as partituras dos cantos mais lindos da Igreja Católica.
Vou buscar amanhã, ela vai me presentear. Conversei com a Cléria que, além de culta, fina, também é ministra, pode? Ela está fazendo trufas para eu comer. Sua boca ficou cheia d´água, azar seu, não vou dar nenhuma pra você!
Mas é Domingo de Ramos e, hoje, carrego a Cruz da poesia e, às vezes, antes de dormir, sinto o perfume do sândalo no meu quarto. De onde vem não sei. Olho para meu oratório onde a imagem da Imaculada Conceição sorri para mim e, então, lembro-me do sorriso de minha mãe e adormeço para uma alvorada em uma das dimensões. Que será sempre alvorada eu sei, porque Ele nos prometeu isso.
Divinópolis, 16.03.08