Trinta anos
Trinta anos
(Inspirado em Arnaldo Antunes)
Na década de oitenta eu queria andar a 80, mas só meu coração disparava. Eu pensava em quem tinha medo da dor, e já havia a dor no medo. E lembrava que a década de 70 era de tentativa. E sentia o cheiro das ruas, e as ruas tinham o meu cheiro. Dançava coladinho, e dançava descolado, e dancei. A década de 90 eu queria inventar vísceras. Visse ou não visse, eras ou não eras, já havia passado. No novo milênio eu já ia a mil, a dois mil. Eu já estava aberto e janelas abertas para o mundo. Outras ruas, outros cheiros, outras bocas. Trinta anos: bocas, vísceras, ruas, coração.