Lufada de Agulhas
Como é bom sentir a brisa em meu rosto
Quando ela faz meu cabelo dançar
E todas as árvores ao meu redor
E todas as folhas ao meu redor
E nessa dança o vento me traz uma lembrança
Lembrança dos cabelos negros e olhos profundos daquela mulher
Em seu vestido vermelho
Em seu sorriso a esmo
Em seu rodopiar e no vento a lhe cercar
Dançando com seu único e corajoso par
Seu cabelo
Como é bom observar o sol poente
O brilho vermelho que invade o céu
Os pássaros que o preenchem de nuvens negras
As ruas mais coloridas que os jardins da cidade
E ainda a lembrança dela dançando
O rubro sol trazia em si a cor daquele vestido
E tal como naquela tarde
Não havia música, mas ela dançava
Parecia que ninguém mais a via
Além de mim
Aqueles cabelos negros
Aqueles olhos azuis
E aquele vestido tão sempre vermelho
Ela dançava como que se o vento lhe cantasse uma sinfonia
E eu escutava
Como é bom ver a lua branca cheia nascer
E as suas nuvens que a cercam tingirem-se de laranja
A cidade toda se envolve nessa aura laranja
Toda menos o vestido vermelho
Ao ascender das laranjas eu ainda a assistia
Mas o grito veio muito rápido e eu
E eu não pude evitar
Surreal era o rosto dela e o olhar desfocado que acertava o chão
O vestido se esparramou no chão e escorreu por toda a calçada
Os olhos dela arregalados
A pele se empalidecendo
Todos correram do tiro, inclusive o maldito
Naquela rua restamos apenas eu e o vento
Soprava um barulho constante que rompia o silêncio
Soprava um réquiem próprio para aquela
Se era vestido ou era sangue
Eternamente vermelho
Como é bom sentir a brisa em meu rosto
Quando ela faz meu cabelo dançar
E todas as árvores ao meu redor
E todas as folhas ao meu redor
E nessa dança o vento me traz uma lembrança
Lembrança dos cabelos negros e olhos profundos daquela mulher
Em seu vestido vermelho
Em seu sorriso a esmo
Em seu rodopiar e no vento a lhe cercar
Dançando com seu único e corajoso par
Seu cabelo
E o vento que era nossa sinfonia
Agora nada mais que uma lufada de agulhas