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REVERBERAS DE SOFIA (zocha)
                                  (Carroção do Tempo (dos Polacos)))

             
"executo meus versos na flauta das minhas vértebras..."
                         (Maiakóviski)

Quando a tarde cai e as cortinas decem,
pelos deuses, ainda ouço a voz nostálgica
daquele auto falante sonolento,
da sociedade Guaíra anunciando 
a chegada e o começo do fim do mundo,
a festa de domingo,  a geada de segunda,
a missa bizantina!
A rua Alagoas levanta a poeira cascalhada,
dona Emilia acaba de batizar o recem-nascido,
e agora está comadre de minha mãe,
mas, quando cai a tarde também cai a vida,
e Odete sua filha moça, 
de pernas branquelas e grossas,
com sua bicicleta azul chegará 
da fábrica da linhagem,
onde é operária.
Todos os dias leva marmita
no bagageiro da bicicleta
e à noite já pode experimentar 
os mistérios do amor...
Paulinho, seu irmão,
 espreita-me quando passo,
finjo que não o vejo, não quero saber  dele,
oculta-se sempre sob a pérgula de heras e musgos
daquele macabro portão de madeira,
parece uma estátua mórbida 
numa cripta medieval,
com suas imensas orelhas de abano,
ouvindo a acústica do mundo!
Não entenderei nunca o destino de Odete,
não entenderei nunca o destino de Paulinho.
Odete se casará de véu e grinalda,
Paulinho será ceifado  aos vinte um anos...
sua mãe se guardará na loucura,
continuará morando no mesmo lugar,
e eu mudarei de endereço para pegar o ônibus
e ir pro colégio das freiras...
O muro de Berlim continuará erguido,
e mesmo depois de caído ainda assim
não entenderei o destino...
e na Faculdade de Direito,
 voce  me beijará com seu sorriso
nas escadarias, na praça Santos Andrade,
enquanto o morno  sol de inverno 
derreterá a geada,
por entre as araucárias...

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