O nome dela
De repente ele chamou por ela num canto de arribação atravessando a sua timidez, e uma forma de dor, estranha e inexplicável, provocou na sua boca um gosto de sangue, um gosto de vida, coração.
Alguma coisa a feriu por dentro e no rosto, banhado de susto, a cor do seu avesso revelou a nascente de um sentimento que ela não conhecia. Quis alcançar o corpo agora distante a se confundir, tocar os braços que roubaram seu nome e deixaram as asas presas no seu vestido. Passou a procurar seu nome nos braços dos homens que passavam por ela.
Passaram braços com outros nomes: Maria, Joana, Ana e Vera.
Passaram pelos outonos, invernos, verões, primaveras.
Passaram tantos, passaram poucos.
Passaram pássaros brandos e loucos.
Não viu o seu nome em nenhuma pena, nenhum suor exalou o seu nome... leu poemas em versos velozes, leu poesia na flor da janela, leu seu rosto espelhado... mas nenhum nome bordado na tela. E já quase esquecia que a noite caía na sombra das velas, no sopro da brisa, com a boca do dia guardando uma luz no horizonte.
Seguiu seu caminho sem guia nas tardes com ventos de areia, levantando poeira, folhas secas, ciscos de sonhos e o par de asas presas. Às vezes olhava prá trás e a lança afiada do sol franzia seus olhos e alargava seu rosto contraído, e retomava a caminhada numa corrida, até faltar o fôlego, as pernas, o ar, até faltar todo o sentido...