O Sonho
Ontem sonhei que te procurávamos.
Eu, que te olhava mas não sabia onde estavas , e tu que te olhavas sem te ver.
Extranho aquilo, de estar ali e saber não estar.
De perceber o mundo a sua volta como real e saber que tudo não passava de um sonho.
Afinal quem comanda a realidade? A realidade, ou o sonho?
Olhar pra ti e te ver inteiro por fora era um sonho, pois sabia que isto não poderia ser mais assim, tão real, e ali estavas, sereno e inquieto ao meu lado como antes fora, mas tudo ali parecia deslocado no tempo e descolado de qualquer sanidade. Mesmo assim, em tua busca absurda sorrias e aquele sorriso foi a única coisa que permanceu real em ti para sempre; pelo que soube.
Ali sim, naquele gesto eternizado pelo tempo, em todas as dimensões, mantivestes a essência de quem sempre foras realmente, mesmo que a vida e as pessoas nem sempre assim te tenham compreendido e permitido vivenciar plenamente.
Acordo e percebo que a realidade passa e só os sonhos ficam porque não pertencem ao lógico, não pertencem a nada nem a ninguém.
Ouvi dizer, num momento da noite, que te foste para sempre. Mas ouvi dizer também que teu sorriso ficou. E ali e somente ali, naquele sorriso teu inseparável e único, foi possível encerrar a busca permitindo assim derradeiramente que te encontrassem: todos e quantos que naquela hora te procurassem.
Saber de ti assim de repente, foi uma loucura, insanidade real que o sonho delicadamente afasta mas a realidade não apaga.
E aquela procura com que tanto sonhei um dia e que aprendi a relegar ao sonho, agora sei, será para sempre retida na dimensão da memória, que se confunde numa ciranda maior e surreal posto que ali, e só em sonho, podemos nos permitir enfim, enfrentar a realidade.