Nosso silêncio
São longos nossos períodos de silêncio. Estamos pacificamente em sintonia com nossos espíritos saudosos, mas mergulhados em nossos próprios pensamentos, numa solidão compartilhada, coberta com um manto de paz que nos acalma os sentidos.
Mais que isso, cada um mergulhado no pensamento do outro, tentando descobrir o que vai pela alma alheia: o que sentimos no exato momento em que nos calamos, o que faríamos se não nos tolhesse esse torpor misto de timidez e expectativa, o que cada qual seria capaz de dizer caso o outro iniciasse seu questionamento.
As palavras ficam ocultas numa dobra qualquer do tempo, de um tempo que não volta. Nosso silêncio é como uma tela em branco, pela qual deixamos que rode o filme ideal das emoções que poderíamos compartilhar, caso não nos deixássemos intimidar pela presença um do outro.
Silenciosamente nossas bocas esperam, com paciência sem limites, as palavras que, na verdade, não sabemos quais são. Ou talvez os beijos, esses sim eloqüentes à sua maneira, vivos, vibrantes apesar de delicados, pudessem tomar o lugar das palavras não ditas, e finalmente deixar explícitos seus recados...
Mas nossa presença nos inibe e completa. Nossa companhia nos pacifica e basta. Nossas palavras não ditas são, a um tempo, imprescindíveis e inúteis, visto que o silêncio, apesar de longe de nos satisfazer, é o complemento perfeito de tantos anos de ausência – pois que haveria tanto a dizer que nem todas as palavras do mundo, em todas as línguas, poderiam expressar.
Nosso silêncio resume todas as perguntas que nunca vamos nos fazer.