Desabafando
Não quero mais ser palhaço
no circo da vida.
Cansei!
Cansei de fazer os outros rirem,
cansei de esconder a minha dor
atrás de um sorriso,
Cansei de cair e todos acharem
que a queda, a minha queda
foi apenas mais uma piada engraçadinha.
Por isso, de hoje em diante
serei o Mestre de Cerimônias.
Jogarei no baú do esquecimento
meu terno multicolorido,
o colarinho largo
e meu nariz vermelho.
Usarei casaca, sapatos de verniz
E uma gravata borboleta
Igual ao Jô Soares.
Serei sisudo
Circunspecto
Direi as palavras corretamente
em português castiço.
Resumindo: serei um chato.
Porém, um chato impecável!
Quando era criança
Mal adentrando na vida
Meu maior sonho era ser:
TCHAM TCHAM TCHAM TCHAM!
Domador de leões.
Chicote nas mãos, roupa de couro falso,
chapéu Indiana Jones na cabeça,
enfrentaria de uma só vez dez leões,
cinco tigres
e uma onça pintada.
A platéia boquiaberta faria Oh!
Com minha ousadia.
Engravatados senhores conteriam
A respiração.
Mulheres carentes de amor e sexo
Se retorceriam nas cadeiras
Num misto de tesão e medo.
E eu seria herói, o único herói
da noite toldada.
E seria revivido nos sonhos delas
na calma dos lençóis.
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Talvez minhas amigas não entendam
tal procedimento
e segredam-me estar errado.
Dizem até, sem mim,
o espetáculo não existiria.
“É engraçado” penso com meus botões,
“todas falam assim sem pestanejar,
no entanto nenhuma consegue explicar
o porque da tesão
pelo domador de leões
ou o Mestre de Cerimônias.
Pelo palhaço? NUNCA!!!”