Sem saída

Preso num elevador quebrado entre dois andares...

Sem voz, querendo gritar...

Com tantas coisas a dizer, e sem interlocutores...

São, num sanatório...

Vendo a movimentação através de um vidro indevassável, através do qual ninguém o enxerga...

Chamando ao telefone por alguém que não tem a menor intenção de atender...

Vestido com uma capa invisível, e por mais que se agite ninguém é capaz de vê-lo...

Perdido numa ilha ao longe, e o navio que passa ao largo nem sabe de sua existência...

Mandando mensagens inúteis, que chegam ao destino e lá ficam, sem resposta...

Pés e mãos atados, boca amordaçada, olhos vendados...

Só, carente e com a alma e o coração em frangalhos, e a pessoa amada a fingir que nada houve...

Sem importância. Insignificante. Praticamente inexistente.

Eis o medo atávico que temos de sermos sepultados conscientes dentro de um esquife lacrado: vivos, mas impossibilitados de viver.