DESEJO

De onde provém esta saudade?

Memórias férteis, absolutamente transcendentais de algum lugar...

Instantes estanques... hiatos do “eu”; leito sagrado, epidérmico e irreal.

Dicotômico é o sabor, o cheiro, a umidade do ser...

Que faz salivar holotrópicas sensações!

Aonde andaremos agora em que a hora eleita interroga o tempo amante?

Pensamento, sentimento, sensação, intuição...

Presença!

Pura memória dos múltiplos neolugares em que a alma devaneia e deseja;

Desejo de conhecer... Ser e Saber.

Será apenas sorver o néctar da flor? É pouco! É nada!

É somente ser o deleite e fazer-se...

Não queremos o puro hedonismo!

Saber pelo prazer estagnado em si?

Desejamos o encontro com o sagrado,

Que bruxuleia nos descaminhos das sombras amorosas.

De onde provém o sopro nos lábios metamórficos?

Sedentos em acomodar e assimilar o alimento pra alma...

De onde virá esse gosto de “ontem”...

Que invade o corpo desfalecido em si, discriminado em partes boas e más?

E a gota da liquidez cotidiana que cai no céu da boca?

O orvalho da madrugada despindo o sol,

Cingindo o corpo da Terra, que também são corpos dos seres – terra, água, ar e fogo,

Tão somente esquecido...

O eco surdo de uma canção ao longe cortando a harmonia da indecifrável madrugada,

Será tão somente manifestação de um inconsciente urgente e cheio de presença?

Decifrar! Devorar essa essência, ampliar, viver as reticências!

Onde escondemos a hora morta do cotidiano?

Quem sou eu... tu... nós... no rotineiro percurso dos dias?

No ensaio diário de ser alguém, que máscaras utilizamos?

Quero senti-las... todas elas!

As estrelas nos acompanharão na nossa incansável e solitária procura?

Abraço a sombra e beijo o meu... o teu... o nosso reflexo;

Pois, o desejo de saber é o dragão,

Que me convida a ser consumida pelo fogo primordial.

Nesse encantamento que nos permitamos sair das esferas dos condicionamentos!

E por um átimo migrarmos e dançarmos...

Eu, tu, nós e os significantes – na noite sem sol.

O dia invade o sonho... a dança finda,

E o que resta é o eco dos nossos passos, risos e pétalas.

Pétalas orvalhadas... fractais do puro desejo de Ser e Saber,

Num movimento que parte da indiscriminação para a integração dos elementos.

E assim, preenchemos os dias nos espaços energeticamente febris

De abraços fractais com o espírito da Vida.

Penetrar nas entrelinhas do Eu... e em queda livre,

perceber a atemporalidade, a poética, a vivência autoerótica do Saber.

A intencionalidade que reverbera no escopo sutil da existência

E nesse “desejo” situar a caminhada,

Mesmo que às vezes, dele... pouco e nada saibamos.

Seilla Carvalho

Seilla Carvalho
Enviado por Seilla Carvalho em 25/02/2008
Reeditado em 18/01/2010
Código do texto: T875113
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