Algo me sobe pelas pernas
Algo me sobe pelas pernas veias do estômago garganta e quer explodir minha cabeças todos os pensamentos enquanto meus olhos arregalam qualquer dor sem sentido que ainda não se vê chegar quem espero. Os ares sopram lembranças grudadas na parede com durex tão velho de grudar sem saber qualquer parte dum passado sem retorno. Havia olhos que me olhavam de esguelha mas tão medrosos que calaram os versos que esperei fossem só pra mim e não para o mundo de espelhos do próprio ego que ele esqueceu em algum lugar. Dói tanto ainda a cabeça de pedir a Deus que me alivie tanto quanto possível essas fantasias que teimam rodear minha rua enquanto o cigarro queima sozinho qualquer coisa que deixei de querer. E de perguntas a menina se fez tão presente de não acreditar que já não sinto tudo que minhas letras escorregam nos papéis e eu sorri por pensar que podia ser tudo num dia de sol mas só chove nessa janela de olhos que caem como gota d’água prendendo o ar numa noite orvalhada. Vejo fadas e duendes se amando em colchões de estrelas e só por isso sinto vontade de me ver menos triste do que penso ser a minha vida para sempre. Há que se aprender da tristeza os dias de ser a única companheira de cama e de sofá e de pensamentos. Nessas horas sombrias queria ser gato no muro de olhar estrelas cadentes coloridas no céu de tanta lua ou no azul de tanto luz que cantaram e nem sei como repetir. Mas mesmo de olhos fechados minhas mãos não viram patas e eu continuo então a brincar de esconde-esconde com a vida pra ver se ela não me encontra enquanto choro debaixo de um edredom azul qualquer.
Paula Cury