mInHa ViDa Em VeRsOs (Parte 02)
Meu irmão
O Paulo é rapaz solteiro
E também muito calado
É calmo, muito tranqüilo
Um autêntico Furtado
Gostava de jogar baralho
Com dois amigos leais
Morreram os dois amigos
Na praça não voltou mais
Vai à missa aos domingos
É católico por tradição
Segue o exemplo da família
Com amor e devoção
Acho que não teve amores
Ninguém sabe, ninguém notou
Quem sabe um amor impossível
Que no coração guardou
Cicida, minha irmã
A Cicida é viúva
Vida de solteira aproveitou
Casou-se, não teve filhos
Cinco enteados ganhou
Sempre alegre e passeadeira
Às festas nunca faltava
Não deixou nada para depois
Nos bailes, ali sempre estava
Era também muito sabida
Tudo tinha hora certa
Dançava e depois se benzia
Se encontrava a igreja aberta
Era muito trabalhadeira
Cozia, lavava e passava
Mas à tarde, depois das seis
Ninguém mais a segurava
Helena, minha irmã
A Helena é a quinta irmã
Também muito inteligente
Faz tudo o que deseja
Faz inveja a muita gente
Em matéria de trabalho
Faz tricô e faz crochê
Borda à mão com perfeição
Ainda faz frivolité
É solteira até hoje
Não quis, não se casou
Falta de pretendentes não foi
Nenhum deles lhe agradou
Cuidou de papai e mamãe
Com toda a dedicação
Agora cuida de Paulo
Que é nosso único irmão
Bem que ele merece
Ser tratado desse jeito
Trabalhou muito na roça
E não tem nenhum defeito
Marília, minha irmã
A Marília é professora
Hoje é aposentada
Não saiu às duas primeiras
É bem mais recatada
É viúva, como a Cicida
Católica praticante também
Mas em matéria de semelhança
Com as irmãs nada tem
Gosta muito de passear
Não perde uma excursão
Com amigas companheiras
Não dispensa a ocasião
O casamento
Agora vou lhes contar
Como foi meu casamento
Não consigo me esquecer
Guardo o maior sentimento
Estava tudo muito certinho
Ano e meio de noivado
Quando chegou o dia certo
Ficou tudo atrapalhado
Morreu uma irmã de mamãe
Para complicar a situação
Aqui na roça não se casem
Arranjem outra solução
A crise estava de mal a pior
Meu pai que resolvia tudo
Não dava nenhum palpite
Sempre calado, quase mudo.
Saí com minha irmã
Para uma casa alugar
Corremos o arraial todo
Não conseguimos encontrar
Não conseguimos nada
Fiquei mais desanimada
Padre também não tinha
A igreja estava fechada.
Deveríamos estar contentes
Esperando pelo casório
Reunidos na sala à noite
Mais parecia um velório
Doces até que tinha
Minha tia propôs faze-los
Mas, se não tinha casa nem mesa
Como eu poderia oferece-los?
Tia Zilda foi precisa
Casamento adiado não presta
Casem-se de qualquer jeito
Já que não vai haver festa
Minha mãe falava muito
Mas não arranjava solução
Aqui na roça eu não quero
Esta é a minha opinião
Tudo enfim resolvido
Casamo-nos na cidade vizinha
Ao chegarmos ao altar
Cai a saia da madrinha
O padre era doente
Na igreja já esperava
Não sabemos o que falou
Tinha mais caretas que palavras
Minha tia, me desculpe
Ela não atrapalhou
O que não tinha conserto
Ela morrendo consertou
Se tudo o que vem à mente
Pudesse ser conhecido
O caso de muita gente
Seria um caso perdido
Muitas vezes fala a gente
Que vive sempre feliz
Não diz aquilo que sente
Não sente aquilo que diz.
(CONTINUA...)