Hoje vejo o sol nascido à pouco
Hoje vejo o sol nascido à pouco na janela entreaberta de ares que me entram novos pelos pulmões esvaziados de quase toda uma tristeza de anos e percebi que meus pés coçavam algum passo novo. Sentei tentando entender um pouco mais como foram tantos dias cansados sem luas ou estrelas mais bonitas do que um bombom cor de rosa. Sorri de leve a conversa anterior de entender tanta coisa aos poucos sem tanta pressa de sair correndo para gritar ao mundo o pouco menos da lama cansada envolta no meu pescoço descendo como água de chuva pelos braços e pernas escorrendo entre os dedos do pé. Ainda sentada e pensando como sempre penso de ir com calma para não atropelar os olhos num dia sem viver com tanta vontade de saber mais um pouco de mim e de outros mins e eus em mim mesma. É num dia como esse que o céu deveria abrir alegrias de anjos a sorrir menos uma lágrima escorrida em vão mas o céu apenas grita sol em uma alegria mínima de se saber não ser tudo onde tantos ainda choram. Levanto com a preguiça presa à mão de não fazer os dias diferentes e caminho quase arrastando os pés que me parecem cansados mas não estão por só parar e não andar. E parece mesmo que o ano começou na primavera de flores por todos os lados e um pássaro cantando minhas esperanças na voz daqueles que me esticaram a mão sem saber muito bem se eu ia levantar ou afundar de vez no mar sem fim do meu ego. Sorri como há muito não sorria e andei mais um pouco sem pressa. Nessa calma que a música canta de seguir juntando os dias é que vou seguindo a estrada de me levar onde agora eu sei querer ir para buscar e construir o que sempre sonhei nessa vida.
Paula Cury