NORDESTINO EM CIDADE GRANDE

Quando eu morava no Nordeste

E a fome apertava,

Eu comia o que a terra dava

E fazia um calor da peste !

A pobreza era tanta

Que a terra só dava palma;

Eu era só pele e alma

E a ossada que espanta !

Depois resolvi tentar

Em são Paulo, ganhar a vida ...

Cidade grande, mas perdida

E eu com família pra sustentar ...

Não careceu tempo bastante

Pra ver a decepção:

De cama, eu só tinha o chão

E no chão, eu seguia avante ! ...

Já vi muita coisa feia

Nesse mundo sem porteira

Mas nunca na vida inteira,

Esse emaranhado de teia.

Tanta gente desempregada !

Atrás de uma chance qualquer ...

Não consegue nada que quer

E no fim do dia está pregada.

Quando um anúncio aparece,

A fila já está enorme ...

E no ponto ninguém dorme

E até recorre à prece.

E o santo, de tão ocupado,

Já nem atende pedido

E o povo todo perdido,

Continua desocupado.

A vida é dura, não afaga;

A concorrência é tamanha

Que a multidão dispara na sanha

De conseguir agarrar uma vaga !

E quem tem estudo

Que trate de correr atrás:

Hoje nem a palma existe mais,

Acabou tudo !!!