"Ventura"

Olhou-se novamente no espelho, e perplexa com sua própria imagem, desabafou: “Há em mim um vago absoluto, e vejo diante dele a dúvida, o infortúnio. Que será do meu desespero?”

Repousou o corpo em absoluta desconexão. Primeiro, as nádegas esparramaram-se na poltrona, em seguida esparramou-se por completo. Dos olhos, somente o complexo repetia as mesmas tolices. Da boca, palavras mudas insistiam perpetuar. E das pernas, apenas lentidão.

Lentos, giravam os olhares: vultos por toda parte. Brisa? De onde vinha, que a tocava insistentemente? Do canto esquerdo daquele jardim perecido?

Inútil momento em que se viu tomada por reflexões. Pestanejou, e como se dialogasse em plena luz do dia, entre singelas estrelas; luziu contente!

E de súbito o medo se fez coragem. Da agrura sentida, incontida felicidade se fez em vida.

E medrou no descompasso. Fez do riso, o constante. Do ardil momento, o instante e da fortuna, a ventura.

“A desventura é o ponto de partida para o forte, que mesmo em face de... supera!”