Vendo o futuro...
Eu me vejo, meu amor, daqui há muito tempo, sentada na velha cadeira de balanço que foi da minha bisavó...Vejo-me , com as mãos trêmulas, e, certamente, com um livro em minhas mãos, ouvindo a Serenata de Schubert, ou o Sonho de Amor, de Chopin; ou Os Contos de Hoffmann , de Hoffenbach... ou até, quem sabe, "Amigos para Sempre..." ou Beethoven... E me vejo só, sentindo a casa imensa, lembrando a cama, mais imensa ainda... Eu me vejo só e com frio!...
Poderei estar lendo um livro dos meus contos, recém publicados, ou lendo um livro teu... Divagando no livro e na música, meu pensamente voa para o passado, para os dias de sol, quando tu vinhas e enchias de luz a nossa casa! A tua voz cantava com a minha as mesmas canções... Tua mão terna e segura, beijava minha mão... teus olhos beijavam os meus olhos...como nos amávamos, então!... Fomos tão felizes, mas por tão pouco tempo! Mas como fomos felizes! Poesias vinham parar na minha mão, e nas tuas, as minhas iam pelos ares... Falávamos com os olhos, beijávamos a sorrir... E eu te dizia: Como é possível beijar e sorrir ao mesmo tempo? Mas nós conseguíamos... Bebíamos no mesmo copo, sorvíamos nossos suspiros, éramos "um no amor"... Sentávamo-nos um em frente ao outro e o café tinha um outro sabor... Sentavas-me no teu colo , e eu me sentia menina e mulher... Teu carinho era doce e me recitavas poesias de amor vindas de um livro muito antigo... e como vivemos intensamente nosso amor!... Era nossa completude... O nosso renascer!...
Tínhamos sonhos e ideais comuns... ansiavamo-nos por nos escrever! Para gravar em arte o amor mais lindo que se podia imaginar ter...
Uma vez me trouxeste de longe umas pedrinhas...guardo-as comigo! São minha relíquia, minha prova material de que não foi um sonho, não!...
Então, um dia, te tiraram de mim!... Eu pranteei e me vesti de luto...
Quando te arrancaram de mim, de modo tão inesperado e violento, levaram contigo minha vida!! Meus sonhos desabaram e meu sorriso morreu junto contigo!
E lá estou eu, na cadeira de balanço...só, muito só com minhas velhas lembranças, sem jamais ter esperanças...
Olho a porta: nunca mais entrarás por ela!...
Sem teu sorriso, minha/nossa casa ficou escura, envolvida em sombras, que só se afastam quando as lembranças vêm... Eu sei, eu vou morrer sozinha, porque me mataram contigo quando te levaram de mim!...
Então eu me vejo lá adiante... muito só... A música termina. Anoitece.O livro cai de minha mão...e eu te vejo entrar em meu coração... Sorrio feliz, pela última vez... Caem os óculos, cai o livro, rola uma lágrima no meu sorriso... só uma coisa não solto, estão grudadas a mim, estão comigo, dentro de minha mão: nossas pedrinhas... até que uma a uma, as pedrinhas cáem e rolam pelo chão... E eu te vejo sorrindo, e com um beijo, tu as recolocas para sempre no meu coração...
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15 fev 2008