Passada a folia

*Passada a folia

Época de esquecer dos problemas e fingir que

no Brasil tudo vai vem, obrigado. Mês

em que o mais endividado

dos servidores públicos

usufrui do pouco dinheiro que lhe resta

e faz desta festa

uma obrigação orçamentária mensal

tão quanto a mensalidade escolar.

Assim é o Carnaval. Mas um dia o Carnaval acaba.

E com ele acabam as ilusões.

Uma semana de diversões que mais

serve para desviar as atenções

no que diz respeito à violência,

miséria, corrupção e a outras calamidades

públicas do que promover a cultura nacional.

Depois as pessoas se dão conta das dívidas

que deixaram, das contas a pagar. Num país onde

milhões passam fome, outros milhões não comem durante dias,

não porque falta comida, mas por opção,

pois a bebida alcoólica não falta na mesa.

Disposição para madrugar com brincadeiras entre amigos

também não cessa, mas disposição para pensar e ter

bom-senso, isto falta.

Fevereiro marca o fim das comemorações

de início de ano; na verdade o ano começa

depois da folia carnavalesca

e uma pergunta gigantesca

aqui cabe: vale

a pena ignorar meses de defasagem em detrimento

de uma semana de alienação? Não. O Brasil

é muito mais que blocos, trio-elétrico, serpentinas e mulatas dançando.

O Carnaval é usado, não como

uma manifestação cultural popular, mas sim como

uma fuga das responsabilidades(sociais!). Os meios

de comunicação preferem valorizar os desfiles,

porta-bandeiras, o carro alegórico e os tambores

a valorizar a situação dos analfabetos, da situação educacional

do Brasil etc. Tudo a favor do consumismo.

É preciso refletir sobre esta questão. A cultura brasileira é rica

e respeitada em todo o mundo. Deve ser usada como forma de diversão,

sim, mas não como um meio de alienação.

Deve ser usada, também,

para melhorar as condições de vida de alguém,

da população,

já que contribui para a liberdade de expressão.

Deve ser usada como cultura popular, não

como cultura de massa, que passa.

Portanto, passada a folia

o brasileiro dar-se conta dos problemas, das dificuldades,

foi-se a alegria.

É nessa hora que lembramos(se lembramos) de quão grave

é a questão social no nosso país, e dos nossos pais,

e é nessa hora que precisamos ter a mesma

disposição carnavalesca para pensar a respeito.

Bugarim