Caçador de sereias
“... ser mendigo e dar como quem seja
Rei do Reino de Aquém e de Além Dor!”
Florbela Espanca
Com você sei que posso falar dessas coisas porque nunca me julga.
Sabe, nas ultimas semanas estou me questionando muito sobre o que sou e o que queria ser. Isso tá me deixando de ponta-cabeça.
É que eu queria ser... ser não... queria sentir mais, gozar gostoso por pequenas coisas, ser mais leve de cabeça... Sabe o que eu queria fazer agora? Caçar sereias na lua!
Queria ser capaz de me revoltar com a fome dos outros, de abraçar um assaltante e dizer que ele não precisa fazer aquilo para ser bom em alguma coisa, de abrir a mão e deixar escapar um raio de sol para uma viúva ou para um órfão. Dar um dia de rainha para a minha mãe e um dia de incontroláveis risadas para o meu pai. Queria que meu coração fosse de algodão doce...
Não consigo ser o cara que me respeita, não consigo parar cinco minutos e tomar um sorvete de chocolate, não consigo tirar os sapatos antes de ir dormir! Quero andar pelado mais vezes, assistir mais desenhos...
Quero ser o tipo de pessoa que é rigorosa quando está tudo bem e que incentiva quando está tudo mal. Não quero ser daquele que usa a verdade como arma; quero acender o sol nos corações.
Não, não quero ser padre, nem monge, nem santo, não quero ser vagabundo, nem sonhador, muito menos malabarista. Apenas uma coisa que se aproxime disso tudo...
Talvez poeta? Contador de histórias? Ombro amigo? Moralista? Cuca fresca? Caçador de sereias?
Sabe, amiga Folha Branca, só quero ser eu...
Pena que você não fala; precisava ouvir a sua opinião...