"Se restringir de viver ..."
Se restringir de viver é como falecer em dia-a-dia,
morrer e se manter de pé por simples preferência a permanecer na vertical,
ter se derrotado por completo,
e vencido a si mesmo nas lutas em vida.
Já que agora estás morto,
vencido, e derrotado pelo pior inimigo que poderias ter,
tu mesmo.
A ti te venceste em vida e em morte não serás diferente,
continuarás derrotado,
já que suas lutas foram em vão.
enquanto teve a chance de ser feliz,
não deu o devido cuidado ao que lhe trazia tal sensação,
se fez infeliz por ser puro e ser sentimentalmente letrado.
se fosses como 'outros' poderias perder a tudo e todos ao redor,
e se manteria de pé, imbativel.
mas por querer ter da vida seus auges,
os teve!
Porém, não foi o suficiente para suportá-los,
viveste em razão da felicidade,
e quando a mesma transpôs a porta dos fundos,
ficaste perdido, desolado, e se pôs a limitar teus dias,
se matando aos poucos dando sóbrios goles no veneno que mais repúdiava,
o viver por não ter coragem de contrariar a vida..
Passar os dias a ter olhos vermelho-sangue,
fruto de teu lamentar o perder da vida!
arrastar-se pelos cantos,
derramando cada gota de sua ezcassa reserva de vida que ainda sobrara..
E assim, gota a gota,
sua vida te foge aos minutos,
se acovarda frente as noites e se emudece perante impavidez do raiar do dia..
Viver só, sem ter sequer uma alma para ouvir teus lamentos,
teus choros, e suas convulções em desespero!
Morro em pena de mim,
por não ter nascido deficiente ou sequer incapaz ...
porque querer-ia Deus me fazer capaz?
Sabendo que eu cuidaria de me fazer coitado!
Para que me mostrar o lado belo da vida,
se sabido era que eu faria por perdê-lo,
para se fazer inda maior meu já enorme sofrimento de fronte a vida?
Seria pela graça de ver um homem capaz se desfazer em grãos?
Ter nascido pleno,
e aos poucos curvando-se, isolando-se, incapacitando-se..
Vendo cada dia nascer menos claro,
e correspondente de angústias ...
Vendo-se ali, perdido, e só,
sem ao menos um alguém para ouvir teus chamados desesperados de socorro..
Ele põe fogo ao homem que fora,
e que vivera apertado dentro d'quele peito ferido a ferro pelas brasas de uma vida jogada fora ...
Se criou só, sem espelhos nem velas, e o que dirá janelas ...
Se escondia de se ver, por ter pena de si,
não queria defrontar-se com aquele homem já caído,
que somente sabia aguardar,
a ti bastava saber que estava ali,
mas nao se desejavas ver,
por ter medo de não reconhecer teu próprio rosto esfacelado pelos abissais mares de perdão nos quais se afogavam os dias!
Confidente da dor,
junto do arrependimento e o sofrimento,
estava entre os seus ...
por viver assim tão desgraçado cada teu "te amo" era mais verdadeiro que o dourado d'ouro,
suas confissões as mais sinceras,
teus dizeres os mais poéticos,
vivendo em clausura de corpo criou raízes em pensamentos.
Com os anjos estreitou os laços,
que como amigos recolhiam os pedaços,
perdidos debaixo dos móveis,
como teus ante-membros que rezam imóveis.
De joelhos marcados pelo chão de concreto,
de tanto ajoelhar-se perante os céus pedindo esperança,
fitava suas crenças espalhadas pela sala,
ficando perdido nas arestas da desarrumação mundana.
seus santos consigo convivem,
das mesmas taças bebem,
e partilham do mesmo pão,
é a hora em que novamente se sente filho do Pai que lhe largou a mão!
Já chega!
Não é mais hora de se evaporar em lágrimas,
é hora de tornar a sonhar,
almejar ser tudo aquilo que vê, toca, sente ou simplesmente sonha ...
ser o melhor que puder ser,
sair de seu túmulo úmido,
e voltar a ser parte do mundo,
ter novamente a coragem de olhar-se frente ao espelho,
e não mais correr da luz que lhe viola a face.
Sentir todos os sabores, viver todas as vidas, ser todas as pessoas, ver todas as paísagens, desejar todas as coisas ao mesmo tempo.
Ser o outro, o próximo, e a ele, amar.
E fazer de si a felicidade que lhe havia escapado pela porta do fundos ...
Tornar-se do amor a outra metade, pois o amor não admite singularidades,
se recriar, ressurgir em vida, apagar tua morte, dar a Deus um porque de merecer viver,
e dar Adeus as noites sem Lua em que se aguarda as lágrimas que lavavam-lhe o rosto com sal sem poder detê-las.
Das lágrimas se tornar Mar, virar nuvem, e desabar como chuva,
lavando os corpos, e se deixando levar pelos meio-fios das esquinas,
afastando os medos que outrora lhe traziam um despertar ingrato.
Acordar livre, nao se prender e se permitir!
Viver da maneira que a vida clama para ser vivida,
intensamente e de peito aberto á todas as emoções que uma vida deveras sentida pode lhe presentear.
Voar nas asas da vida, e tocar o horizonte que mora longe ...
transcender a monotonia do preto e branco de sempre,
e correr lado-a-lado com as cores que enfeitam o abstrato dos sonhos.
Para sempre ser feliz em sumo,
até o sempre se encurtar aos segundos,
e um novo raiar de sofrer reclamar-te o corpo,
dias em que todos os verbos perdem o sentido,
cada dia vira detalhe,
e por menor que o talho,
te arde, e arde, e arde ...
Porém,
por mais ardentes que possam nascer-me os dias,
sorridente me despirá o Sol,
lambendo-me da pele o suor febril,
desejando felicidades ao verão namorando a primavera de Abril.
O chorar, o querer, o passar vontade, o desejar,
ou sua inquietude ao mar, amar, durante tardes ...
Tudo é viver!
Viver todas as vidas inda por vir,
corre quente o sangue nas veias do existir.
Ver queimar nas pontas de meus cigarros,
todas minhas criticas a vida,
todas minhas palavras desafetuosas sem fundamento contra o Ser da criatura vivente,
e ser fumaça no ar que transparece cinzas ao tragar de meus cujos tragos!
Niterói, 10 de setembro de 2007