UM CREPÚSCULO DÉGRADÉ.

 

 

 

 

 

 

Nesta tarde, nós perdemos também esse lindo crepúsculo, na verdade, uma aurora às avessas que se esparramou sobre as montanhas do Bonja, uma linda apoteose de verão que me deslumbrou cheio de saudades.

Que pena!

Ninguém nos viu à tarde com as mãos dadas, apreciando o atracar da noite azul que caía silenciosamente sobre as montanhas e o mar.

Somente eu, movido pela nostalgia via de minha torre, a festa do poente nos montes distantes que me separam de ti.

Às vezes, qual uma rica e rara moeda acendia-se um pouco de sol em minhas mãos, nesse momento, eu imaginava estar penteando os teus cabelos de ouro.

E assim, eu te recordava com a alma úmida e apertada, com aquela tristeza que tu bem conheces em mim.

A minha tristeza não era sinal de depressão ou uma patologia qualquer, é que, nesses momentos de crepúsculo, eu fico entristecido porque estás longe de mim.

Então, onde tu estarias?

Junto talvez às tuas pacientes em busca de beleza?

Dizendo a elas que palavras?

Eu não sei por que nesse instante há de vir a mim, todo este amor de um golpe, quando me sinto triste e te sinto tão distante?

Agora, caiu-me o livro que eu sempre escolho para ler depois do crepúsculo.

E, como um cão ferido, rolou-me aos pés com a capa aberta, onde estava a tua fotografia com os seguintes dizeres:

“Oh ardente lua, mulher linda, branca e minha que amo, o meu anseio de ti é eterno!”

Sempre, sempre tu estás ausente pela tarde, sempre quando o crepúsculo se debruça sobre as montanhas, botando o seu fogo dégradé nas estrelas.

 

 

 

 

Eráclito Alírio da silveira
Enviado por Eráclito Alírio da silveira em 12/02/2008
Código do texto: T856836