12 de Setembro

O sol apenas queimava e ao invés de fazer brotar gotas de suor nos homens expostos, secava com rapidez toda e qualquer manifestação líquida do corpo humano. Não havia poças no chão, o sangue engrossava e o suor grudava, incrivelmente sólido, nas camisetas rasgadas e ferventes. Os olhos ardiam e mesmo assim nenhuma lágrima ousara cair. A paisagem estagnada sendo movimentada apenas pela ilusão do vapor que emana do asfalto. A temperatura ambiente era fruto do psicológico humano e da malícia do imponente e impiedoso sol. Gargantas secas para sempre numa retida cumplicidade entre o silêncio e o sofrimento. Com a forte luminosidade, as folhas caídas queimavam e as ruas eram verdadeiras Vias Dolorosas. Setembro não tinha razão de existir, no entanto, aquele 12 de Setembro parecia inadequado à morte.