Meu Deus , me Perdoa

Meu Deus, me Perdoa

Perdoa minhas mãos que se negam a postar-se em oração.

Perdoa meus lábios cerrados e meus ouvidos atentos.

Perdoa meus olhos abertos que insistem em encarar teu rosto.

Perdoa por todas a ofensas que te dirijo quando me agrides.

Perdoa se não sinto teu abraço macio e translúcido nos momentos em que me abandonas.

Perdoa eu dizer que sou prova viva da tua imperfeição, fruto agridoce que geraste distraidamente.

Perdoa quando grito enquanto me apunhalas.

Perdoa minha falta de humildade diante de tua soberba.

Perdoa a indiferença que sinto ante os efeitos da tua ira.

Perdoa meu olhar salgado ante os sofredores que clamam por

tua misericódia.

Perdoa se me nego a ti a cada vez que te negas a mim.

Perdoa pela escuridão que me invade quando roubas aqueles que me inundam de luz .

Perdoa os questionamentos genuínos que bradam alto às tuas imposições.

Perdoa se de ti nada quero, enquanto clamo veemente que olhes por meus irmãos.

Perdoa essa filha ingrata que não te beija as mãos por saber a extensão da dor que estas podem causar.

Perdoa por todas as vezes em que tento falar-te, sabendo

que minha voz jamais chega a ti.

Perdoa as minhas fraquezas, todas oriundas do teu amor infinito, que me esmorece.

Perdoa por ter seguido tuas leis enquanto suportava tuas condenações.

Perdoa por ter estado na ante-sala de ti e rejeitado a tua

presença branca e leve.

Perdoa por ter retornado feliz à transitoriedade humana, mesmo sabendo árdua a nova missão.

Perdoa esse dom de sempre perder, e mesmo assim insistir lutando.

Perdoa essa fé sem louvores e povoada de interrogações.

Perdoa minha incapacidade de entender as tuas contínuas provações, mesmo que me saibas exausta.

Perdoa quando essa exaustão não me abate a perseverança.

Perdoa se os sofrimentos que me impuseste foram incapazes de nublar meus sorrisos amplos.

Perdoa se transmuto o tempo que em mim acumulas em cirandas de alegres crianças interiores.

Perdoa essa ovelha rebelde e desgarrada, sempre disposta a reintegrar teus rebanhos divergentes.

Perdoa se ainda espero um tanto de doçura dos meus iguais.

Perdoa essa alma indomável e peregrina.

Perdoa se me falta a crença, mas crê em mim , que te reafirmo em íntima constatação.

Perdoa meu pensar insaciável e meu coração absurdo.

Perdoa o meu amar ardente e minha gélida razão.

Perdoa tudo em mim que busca o absoluto.

Perdoa enfim, Meu Deus, a minha inquietante verdade.

Amém.

Claudia Gadini

11.12.2005