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 CARROÇÃO DO TEMPO (dos polacos)

                  "...executo meus versos na flauta de minhas vértebras..."    
                                     (Maiakóviski)


Já faz um numero de poentes,de sapatos gastos,que o carroção dos polacos apeava com seus cavalos mansos
à porta do bangalô de madeira,de janelas cor de musgo, na Vila Guaíra,com o comércio das porcelanas.Vinham acondicionadas em caixotescom palha de milho,e eram trazidas da cidade de Campo Largo.
        Ficávamos dependuradas eu, e minhas irmãs, nos sarrafos da cerca,mastigando a lanha das felpas, como trapezistas ansiadas,com os olhos brilhantes espiando as compras.A polaca de lenço branco até a testa,
tinha a pele enferrujada como a minha e minha mãe orgulhosa, ia montando palmo a palmona cristaleira nova de pinho envernizado,dos móveis novos da sala de jantar,a louçaria delicada que comprava, uma a uma à prestação,e que vinha como relicário,transportada pelos estradões de pó virgem,por aquele pesado carroção...

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