Ressurreição
Ressurreição
Você ressurgiu na minha vida do nada. O tempo não passou para você, mantém aquele brilho de esmeraldas de valor incalculável no olhar e o mais puro ouro nos cabelos sempre acariciados pelo vento.
Foi como se um recorte perdido escorregasse de um livro esquecido e da mais escura noite fizesse luz, descortinando um Nirvana que já esmaecia na minha tênue lembrança.
A chuva abafou todos os ruídos e isolou o mundo lá fora, não há absolutamente nada além do Universo dos nossos corpos que instantaneamente reencontraram os caminhos que nunca mais imaginaram percorrer, embora suas rotas fossem como setas em néon nas noites de solidão, quer estivéssemos acompanhados ou não.
Nossas bocas unas e sedentas são ingredientes insubstituíveis de um drink particular e perfeito, adequado para nos embriagar ainda mais de êxtase e prazer.
Acaricio seu corpo com a fome de um explorador perdido no deserto, que exausto de paisagens iguais, vê-se diante do mais perfeito oásis e sabe que pelo menos neste momento, você não é uma miragem.
Embaralhamos nossos corpos e línguas desafiando todas as leis da física e trocamos fluidos e carícias em inusitadas e sempre inéditas experiências químicas.
Os lábios ocupados deixam para os membros a missão de colocar em prática palavras e desejos que não podem ser pronunciados, mas que jamais foram esquecidos.
Seus sorrisos e gemidos remetem-me a nossa primeira vez, onde o sentimento transbordante e incontrolável sobrepujava e reinava sobre as inseguranças e dúvidas, onde descobrimos que a realidade costurada na carne ardente pode ultrapassar a mais insana fantasia e deixar marcas irremovíveis e eternas.
A perfeição foi refeita, colada com gotas de orgasmo, talvez até vencida e extendida em seus mais improváveis limites. Por um átimo, o amor reergueu-se pleno, acima de todos os mortais, todos os valores ou quaisquer questionamentos.
Assim como apareceu, você partiu, deixou no ar seu perfume inconfundível, seu sabor inigualável e o insustentável peso da sua ausência. Nada foi dito, nem promessas nem garrafas foram lançadas ao mar e o vento cessou por não saber o que transmitir ou como lhe seguir.
O pesado silêncio âmbar coibia qualquer movimento ou ação, misto de fim e prelúdio de uma nova estação.
Sentei-me na cama banhado pelas mais indescritíveis sensações e sorri sem pensar no amanhecer e sim na noite mais que perfeita que ainda sentia na pele viver.
Nossos caminhos tornavam a se separar sem perspectivas de novas intersecções , com o tempo acabaremos novamente sendo personagens apócrifos de dolorosos versos ou canções, mas quando menos esperarmos , numa época de monções , ressurgirá do nada, a mais louca e inexplicável das paixões e ignorando tudo e todos além de nós, nos entregaremos a ela, como se jamais houvéssemos nos separado por sequer um instante, pois mesmo no meio de multidões e vivenciando outras relações, só estamos inquestionavelmente felizes, autênticos e inteiros quando juntos e a sós ...
Leonardo Andrade