"A poética da vida"

Nasci sob o casto signo do zodíaco, designado a anteceder com altivez a sacra nomeação da mãe santíssima: sou virgem, mãe e professora.

Meu primeiro grito foi dado ao sexto dia do mês de setembro, antecedendo ao dia em que, imperiosamente, comemora-se a nossa independência.

Tal qual D. Pedro, antecipei minha liberdade aos 13 anos, ou melhor, recebi meu primeiro visto em meu passaporte profissional: um registro em minha carteira profissional como professora de Datilografia na Escola Paraguaçu.

Contrariando ao famoso dito de que “criança não trabalha, criança dá trabalho”, fiz os dois ao mesmo tempo. Tive uma infância permeada de peraltices, mas sempre aos olhares atentos de minha saudosa avó e de minha mãe.

Ao mesmo tempo em que elaborava suntuosos “buquês” de rosas, lia José de Alencar. Enquanto inalava o aroma de tulipas imaginava Peri a defender Cecília. Tudo isso aconteceu numa famosa floricultura de Santo André, Sakura; onde trabalhei por algum tempo.

Entre o trabalho e as obrigações escolares tinha a poesia: esta nasceu exatamente no dia em que “ouvi” pela primeira vez a estória do “pequeno príncipe”.

Até hoje, já no auge dos meus 35 anos, emociono-me ao reler a obra de Antoine Saint-Exupéry.

Retirar, mesmo que semanticamente, o elefante de dentro da cobra é tarefa de criança, pois há de ser puro para vislumbrar a vida de dentro para fora; há de ser espirituoso e corajoso para “sair do seu planeta” e explorar o desconhecido e há de ser ainda mais valente ao quebrar o laço com a audaciosa rosa e seus quatro espinhos.

“Adoleci” espreitando os pensamentos herméticos de Clarice Lispector. Água-Viva culminou no amadurecimento precoce das ideologias de uma menina ainda preocupada com as espinhas que apontavam em seu rosto. Mas, “tudo vale a pena se a alma não é pequena”; e confesso que naquele instante eu vi emergir em mim uma futura escritora.

Nunca me intitulei uma profissional das letras, e pego emprestada a resposta de Clarice quando questionada sobre o seu “pseudo-amadorismo”: escrever por obrigação me ataria. Estaria eu obrigada a escrever maquinalmente, e escrever é transpor em palavras um estado de espírito, que nem sempre colabora para a produção de textos.

Por tanto, ensinar literatura não é somente uma profissão, mas sim o exercício de uma arte que tanto me fascina.

Findo aqui, a trajetória de uma carreira que teve início nesta unidade de ensino.

Texto elaborado para o colégio onde leciono.