Águas de Poço Cavo

Aqui, tem águas. Sim, tem águas.

Tem água de poço.

Água de poço. Água.

Cavo meu poço...

Retiro terras,

Acho pedras,

Vejo vermes,

Há raízes,

Raízes antigas se me vêem,

Arrancá-las é inevitável!

Então, arranco-as e cavo.

Há dor, há sangue, há água nas antigas raízes,

Eu cavo, eu cavo, eu cavo.

Eu, cavo. Meu poço cavo.

Cavo meu poço...

Cavo, cavo, cavo,

O meu poço, quero bem cavo,

Lá, tem água e é água de poço...

Cavo!

Quanto mais cavo, mais cavo fico.

Quanto mais cavo fico, mais eu cavo meu poço cavo.

Eu cavo, eu cavo, eu, cavo. Poço cavo.

Cavo sem pressa,

Alargo meu poço. O meu poço, eu cavo.

Não se cavam poços,

Sem criar calos,

Sem tirar areia,

Ou tirar as pedras,

Sem arrancar raízes,

Sem encontrar os vermes.

Sem sangrar os olhos,

Ou suar a pele...

Quanto mais eu cavo,

Mais desejo e cavo,

Cavo pra molhar meu rosto,

Pra matar minha sede,

Pra fazer comida,

E pra me lavar...

Sinto o gosto, suor salgado,

Vejo sangue e calos,

Sem parar, eu cavo,

E exploro o poço,

Que me causa dores: o meu poço cavo; não paro de cavar.

Tenho águas dos meus antigos poços. Nunca secam, eles. Eu, sim.

Poços que minam águas claras e matam minha sede, lavam minha pele suja...

A mente suja...

Se for poço cavo e antigo, este, sim, me serve mais...

Neste tipo de poço as águas se renovam. Se for antigo, sacio minha sede por completo.

Se for inexplorado, encontro-o e cavo.

Cavo poço bem cavo, pois quero águas de poço cavo.

Se acho um poço, logo cavo. Aqui tem águas: eis um poço! Cavo...

P.S.: Esta poesia está devidamente registrada em cartório no nome do autor. Toda reprodução sem a devida autorização sofrerá as sanções penais previstas em lei.

Carlos Maciel CJMaciel
Enviado por Carlos Maciel CJMaciel em 09/12/2005
Reeditado em 12/12/2005
Código do texto: T83372
Classificação de conteúdo: seguro