Lago-coração

Tu que me falas ao ouvido o que devo escrever,

Que recriminas minhas lágrimas,

Que tanges as águas tranqüilas do meu lago-peito,

Silencias o meu grito ondulante.

Refletes,

Tu me falas?

Será que me falas ou me ordenas?

Pétalas de rosas são teus espinhos em meus olhos,

Beleza que encanta,

Verdade que fura...

Ao teu redor o chão é árido e quer tuas águas, Lago-coração...

Mesmo sendo lago profundo,

A mim me são raros e rasos os direitos e desejos que me concedes...

Silencias minha dor.

Tu, o que me é importante?

O preço é nulo,

Não posso repartir minha dor,

Dor que se faz completa,

Espinhos que se completam...

Dor completa,

Lago-de-rosas.

Espinhos de dores...

Logo, lago, largo as palavras no espelho de tuas águas,

Palavras avessas; reordenas as palavras e falas...

És Tu que me falas ao ouvido o que devo escrever?

São minhas ou tuas essas palavras?

As lágrimas?

As águas?

Os gritos?

As rosas?

As pétalas?

Os espinhos?

O que é meu ou teu?

Águas do lago-coração,

Lágrimas que se misturam e não são mais que palavras reordenadas por Tu...

As lágrimas me são águas que produzem gritos de rosas cujas pétalas só me são espinhos...

É... Há beleza nos espinhos...

Tu que me falas ao ouvido o que devo escrever,

Tu que me gritas ao ouvido: o que devo escrever?

Tu que me falas ouvindo,

O que devo escrever!

Tu que me falas,

Falas,

O que devo escrever?

Enquanto tanges as águas tranqüilas do meu lago-peito,

Reordene e fale! Eu espero... Espero o que devo escrever.

P.S.: Esta poesia está devidamente registrada em cartório no nome do autor. Toda reprodução sem a devida autorização sofrerá as sanções penais previstas em lei.

Carlos Maciel CJMaciel
Enviado por Carlos Maciel CJMaciel em 09/12/2005
Reeditado em 09/05/2017
Código do texto: T83361
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