Solitude e canções de piano
Fecho a porta quando a tarde já dança seu último tango, entrelaçando sensualmente suas pernas com réstias de sol, no meio de vales e montanhas. Na cidade, pelos vidros dos prédios, decorrem ritmicamente reflexos de madeixas de arrebol, sendo desenlaçadas vagarosamente pelas mãos da noite, para serem coloridas de preto.
Ciclos repetitivos, dias e noites são olhos do tempo, espiando mutações.
As pessoas caminham apressadas, cada qual com suas ilusões. São histórias desenroladas brevemente, sem escritas definidas, mas que serão encenadas pelo o livre arbítrio.
As multidões e as solidões estão sempre de mãos dadas, num mesmo universo de emoções, ora trajadas de esperanças, ora de saudades.
Nessa solitude de agora, quero apenas canções de piano, enquanto lá fora a noite com suas mãos trêmulas, desfia poesias e tece receios no tear dos mistérios.
Aconchego-me na cama, recostado na cabeceira. O abajur tal qual luar entre rasgos de nuvens, ostenta sua estrela em tom amarelado, circundada por sua cúpula, como que numa triste solidão que se espalha sobre o criado mudo.