Amor Cozido em Fogo Baixo
Lá do alto, onde o tempo caminha devagar, é possível ver.
Estão em todas as casas. Em todas as gerações. Mulheres que dividem o pouco como se fosse banquete. Que partem carne com a precisão de quem corta destino. Que disfarçam o vazio do próprio prato para que ninguém perceba o quanto doem.
São mães, avós, filhas. São aquelas que aprendem cedo a fazer render: o alimento, a força, a esperança. Sabem de cor o preço da mistura e o valor de uma paz doméstica. Sabem que o amor, às vezes, se cozinha em fogo baixo — entre contas não pagas e panelas arranhadas.
Essas mulheres não aparecem nas fotografias. Estão sempre em pé, servindo, cuidando, organizando. Seu retrato é o som abafado da faca contra a tábua, o gesto amoroso de doar o último pedaço, o sorriso que disfarça a fome.
Carregam nos ombros os gestos das que vieram antes — aquelas que também comeram por último. Que dormiram com o estômago roncando e o coração em vigília. Que aprenderam que amar, muitas vezes, é desaparecer um pouco por dentro.
E ainda assim, seguem. Cozinham com fé. Racionam com dignidade. Criam filhos, maridos, casas inteiras — enquanto se colocam em silêncio no rodapé da existência.
Mas do alto… do alto se vê.
Esses são os sacrifícios que moram na pele. Sacrifícios de quem lidera um lar — Quem ama, administra. E às vezes, se anula.
Mas do alto… do alto se vê. Se vê e se reconhece:
essas mulheres são as colunas invisíveis do mundo.