Por Outras Ruas
*Por Outras Ruas*
Hoje, vesti o corpo de coragem e calcei os pés de vento. Saí.
Saí da casa que me abriga, que me cerca, que me ama e me aprisiona em ternura demais.
Saí para respirar algo que não fosse meu —
o ar da rua, o cheiro do mercado, o som dos carros com pressa e das árvores sem tempo.
Fui comprar coisas. Coisas pequenas. Mas, no fundo, fui me comprar de volta.
Fui buscar o Thiago que mora depois da porta.
Fui pelo caminho conhecido, aquele de sempre,
mas na volta…
ah, na volta eu decidi desobedecer o costume.
Desviei.
Peguei ruas que nunca tinham sentido meus passos,
olhei vitrines que não sabiam do meu nome,
toquei calçadas virgens da minha presença.
E andei.
Andei devagar, porque há dias em que a pressa é uma traição.
Andei como quem conversa com o chão, como quem negocia a própria existência com o céu.
E no meio da caminhada, pensei.
Pensei sobre mim, sobre o tempo, sobre as dores que vestem jaleco
e se escondem sob diagnósticos bem explicados.
Mas isso fica pra depois.
O que importa é que andei.
E ao andar, eu fui.
E ao ir, eu vivi.
Mesmo que por minutos.
Mesmo que com passos tímidos.
Mesmo que parecesse pouco.
Saí da casa, sim.
Mas, mais do que isso:
saí de mim.
E voltei maior.
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*_Tiago Perco_*