A Incrível, Estúpida, Libertadora Redescoberta da Minha Voz — entre uma unha roída, um cigarro e mais um idiota!

Aconteceu do jeito mais patético possível.

Não durante uma grande epifania. Não após uma sessão de terapia revolucionária.

Mas entre uma tragada de cigarro barato, uma unha roída até o sabugo e aquele olhar: o olhar clínico de um homem que achou que me compreendia em dois segundos e meio. Porque, claro, ele é homem. E porque ele viu minha cropped vermelha e minha guimba de cigarro e achou que isso era tudo que havia para me definir, sem dar-se conta do caos em minha existência.

Foi aí que percebi: perdi o som da minha voz.

Não a voz que canta no chuveiro ou responde e-mails com pontuação correta.

A voz que me segurava nos ombros e dizia:

"Amanhã é outro dia, ou."

A voz que defendia minha humanidade como uma leoa faminta no cio da política identitária, que gritava por dentro quando eu via injustiças, e que me fazia rir sozinha em meio à minha própria desorgem — porque rir sempre foi meu colete salva-vidas.

Mas eu notei, por fim, que a perdi.

No meio de um romance não-romance com alguém que confundiu meu caos com incapacidade.

Com alguém que confundiu meu silêncio com anuência.

Com alguém que confundiu minha tentativa de ser compreensível com ser moldável.

E aí veio o “E se?”

Ah, o glorioso “E se?”.

A versão adulta do monstro embaixo da cama.

E se eu for mesmo uma farsa?

E se minha autenticidade for só carência com franja?

E se tudo isso — as minhas ideias, meus textos, meu feminismo de cropped suja e memes do Carl Jung — for uma grande encenação?

E se ele tiver razão?

Dica: ninguém nunca tem. Mas eu precisei passar por todo o inferno do silêncio pra dar valor ao meu barulho.

Porque o silêncio não é só ausência de som.

É o momento exato em que você começa a se policiar antes de abrir a boca.

É quando você troca “não gosto disso” por “tudo bem” ou até pior "concordo" a despeito de ojerizar.

É quando você sorri querendo berrar, só porque ele não curte drama e você precisa se adequar.

Mas aí, como num filme barato estrelado por mim e dirigido por Brené Brown com trilha sonora da Alanis Morissette, veio o grito.

Um grito filosófico, feminista e malcriado, com legendas em neon piscante no fundo da minha cabeça:

“QUE PORRA É ESSA, ANA?

Desde quando você liga pra opinião de quem só te vê como projeto de reeducação emocional?

Desde quando você precisa de aprovação pra existir do seu jeitinho esquisito e lindo e bagunçado?”

Era a minha voz voltando...

ELA VOLTOU.

Cavalgando um cigarro, equilibrada em uma unha roída e dizendo, sem sombra de dúvida:

“Esse homem não vale o seu silenciar.”

E aí eu olhei pra ele. O portador do olhar clínico.

O fiscal de croppeds alheias.

O diplomata do Estado do Tédio e da Moralidade.

E disse, com toda a arrogância necessária a fim de dar voz a quem precisou se calar por tempo demais:

— Qual é o seu signo, aliás? Deve ser de virgem.

Mas não me venha com a ladainha do “você é daquelas que acredita em signos?”

Porque, na real, não dou a mínima pro seu mapa astral ou suas prováveis características.

Só queria uma desculpa pra falar alguma coisa antes de te dizer que não tô interessada no seu mundo, na sua régua e muito menos nas suas teorias sobre como uma mulher deveria ser ou agir.

Não tente me adequar. Eu sou a mestra do desconforto sincericída e não vou me calar mais.

Saí de cena como quem sai de um reality show acreditando ser Juliette quando não passa de Mamacita.

Porque a verdade é que…

Nunca foi sobre ele.

Nunca é sobre ninguém além de mim.

É sobre mim. E sempre sobre mim...

Sobre minha voz. Sobre minha história e perspectiva.

Sobre essa brava e corajosa confusão mental que eu trago diariamente expirando poesias deprimentes demais para serem analisadas por quem não as sente, mas sempre dignas de serem admiradas por com compreende que meu inconformismo com regras é mais sobre mim do que sobre a sociedade em si... mesmo fedendo a cigarro de café e roupas que ficaram tempo demais esperando serem estendidas, eu ainda sou digna de ser ouvida e ter minha voz reconhecida além da música, mas de tal forma que minhas paletras não só incomodem como façam os semelhantes se identificarem e sentirem menos solitários...

Ser louca sozinha não vale a pena e como disse Fernanda Torres após se descrever enquanto um pokémon: A vida presta! E eu complemento: desde que você não se perca em detrimento das medidas alheias. Sê você, mana. Sê você, mano. E quem ousar tentar te encolher para caber, simplesmente não é digno de algo além do seu silêncio... proposital desta vez, claro.

Só sejamos nós mesmos sem nos envergonharmos por nos excedermos muitas vezes por estarmos empolgados demais. Sensíveis demais. Idealizadores demais e por fim, sonhadores... sonhar com um mundo melhor não é crime (apesar de quase sempre enquadrar enquanto pecado).

Se eu falo demais? É, eu falo. Mas hoje, eu encontrei um companheiro introvertido que me ouve e me valida. Mas existo apesar dele e por isso... escrevo. Escrevo até demais. Bem-vindos à exteriorização do emaranhado de pensamentos que ruminam e regurgitam emoções e sensações subjetivas demais para serem compreendidas por outros seres... eis a verdade.

Ana Blancato
Enviado por Ana Blancato em 10/04/2025
Reeditado em 10/04/2025
Código do texto: T8306090
Classificação de conteúdo: seguro