Chuva mansa
Chove mansamente. No telhado, entre côncavos e convexos, sem partituras elaboradas, as águas que caem peneiradas dos céus, escorrem em harmoniosa canção.
Vejo a rua emoldurando sua cara de um lado e de outro em leves enxurradas. São como lágrimas no canto dos olhos, tocando silêncio em deságües de emoções.
Pessoas passam segurando guarda chuvas e ali vão fazendo história. A cada passo uma lonjura a mais percorrida, porque a vida é rabisco de saudades numa extremidade e de esperanças na outra.
A quietude dos jardins é impressionante. Folhas frágeis caem, como se fossem pedaços de vestes, que o vento leve poeticamente rasga, como que a querer desnudar os galhos para que a chuva lave sua derme. E nessas vagarezas todas, tudo é poesia tangível aos olhos.
Momentos assim de contemplação nos induzem ao silêncio. E este é refúgio para se fazer alguns reparos na vida. Como chuva mansa, devemos paralelamente criar enxurradas de ternuras e empatia, para que as pessoas floresçam serenamente, cada qual com suas belezas, nesse mesmo jardim universal.