Como o vento - I

Sinto tudo como se minha pele fosse fina demais,

como se cada emoção fosse um punho atravessando meu peito,

como se cada memória tivesse garras

e se agarrasse às minhas costelas por dentro.

Há um incêndio em mim, mas ninguém sente o calor.

Meu corpo é um abrigo em ruínas,

um templo esquecido onde o vento entra e assobia

pelas rachaduras que o tempo cavou.

Sou feita de silêncios pesados,

de palavras engolidas com gosto de ferrugem,

de despedidas que nunca tiveram rosto.

Levo no peito um grito que não se desfaz,

uma fome que nunca é saciada,

um desejo sem nome que me mastiga por dentro.

O mundo me pesa e, ainda assim, pareço leve demais para ficar.

Minha melancolia não é fraqueza—é guerra.

É a faca que guardo sob a língua,

é o punho cerrado no bolso,

é a cicatriz que ninguém vê, mas que nunca fecha.

Meu coração bate em síncope com a noite,

errante, faminto, incansável,

buscando um lar que nunca existiu,

uma paz que nunca foi minha,

um toque que não desmorone quando eu encosto.

E quando a melodia sussurra,

meu espírito responde,

porque dentro de mim mora o vento,

e ele nunca para de soprar.

Ele me arrasta para longe, mas devolve ao mesmo lugar,

me sopra promessas, mas também me deixa no eco da incerteza

Ellissa
Enviado por Ellissa em 04/04/2025
Código do texto: T8301668
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