De outro mundo

Definitivamente minha sensibilidade não é deste mundo. Nesses dias em que acordo atropelando os fatos, tropeçando na fala, mais distraída e avoada do que sempre, eu sei que minha matéria se perdeu no passeio noturno. E minha alma sozinha não sabe o que fazer nesse caos materialista que nos exige foco e atenção plena. Demoro pra entender que estou fora do autômato. E quando finalmente cai a ficha, eu aproveito. Nesses dias é que se me perguntam se estou bem, já respondo logo, sim, estou bem louca! São dias de sol interno em que eu caminho no ritmo dos riffs da guitarra e nem ligo se estou cantando. Não existe autocensura, nenhum filtro. Nenhuma vergonha tola, e nem pudores estranhos. São dias de sorriso aberto pra qualquer um. Que eu falo com todo mundo( sei que alguns me olham estranho, porque em dias normais eu sou muito esquisita, fechadona e calada). Dias lindos que eu me sinto apaixonada pela mulher que me tornei, confortável na própria pele e peso. Não estou na leveza, esse é outro estado. É dia de experimentar uma liberdade surreal de existir. Criatividade a mil. Raciocínio afiado. Mesmo que eu não entenda sentenças simples. Ainda que o óbvio não tenha nenhuma lógica. Estou só alma. Só essência. E ser puramente intuição é dificílimo nessa esfera terrena. Mas, eu tô nem aí. Parece que o botão do foda-se está acionado no último volume. E isso me dá paz. Antes de ser uma mulher reconciliada com meus ciclos eu morria de medo desses dias. Quase me escondia do mundo com medo de fazer alguma besteira. Pensava que poderia ser um estado inicial de uma loucura irreversível. Hoje, eu me entrego e deixo fluir o que tiver de ser. Na boa, eu me divirto muito, porque sei que vai passar e um dia volta. Só não sei por quanto tempo estarei lá, no alto da roda gigante, olhando tudo de longe, sentindo os ventos do céu e todo esse poder de ser o mais puro e verdadeiro eu!

*Si*