Apenas solidão
Quando a poesia é crepúsculo, eu me torno noite para viver de saudades daquele sol, que tua pele dourava marcas de suor sobre a minha.
E então das horas vazias que escorrem pelos ponteiros do relógio, me faço moldura nua e enquadro meu rosto na solidão, ao lado do teu, na lembrança das tantas vezes que te amei em sorrisos e expressões de puro prazer.
E quando a poesia é dilúculo, me torno névoa sobre o horizonte, só pra tentar escorrer em esperanças entre teus cabelos e depois acariciar teu corpo inteiramente nu, como quando tu levantavas da cama e caminhavas lentamente até a janela; e então a enfeitavas tanto, que a paisagem lá fora, nitidamente sorria, ao ver-te afastando a cortina.
E então quando a poesia é canção, eu sou silêncio na platéia de um só expectador. Recolho bemóis e sustenidos do show fracassado, no palco deserto de minhas ilusões.
E assim a poesia é apenas solidão...