Águas passadas
Eu passo por todos os poros, imaginações e corpos. Turbulento às vezes, amiúde calmo. Notam-me quando fazem viagens e o tempo de ócio escorre lentamente, como as eras e os séculos. Escorrendo… Esvanecendo… Partindo.
Vejo no brilhar de seus olhos o regozijo por sentir-me. Alguns de vocês dedicam epopeias inteiras em minha homenagem.
Navios longínquos podem ser vistos desde o nascimento da tragédia ao culto do homem perante a natureza. Minha forma não permite corpos estranhos perfurarem a minha essência; todavia, ignorantes como vocês são, os dejetos de vossas prepotências beijam-me por inteiro.
E tudo tem um preço! O meu tempo é diferente, é milenar. Conforme eras decretam novos impérios, a minha fúria, sob a égide de Poseídon, causa destruições. Vejam-me no entardecer da morte. Sou a festa que banha o ser das coisas que o próprio ser festejou em vida.
Eu sou o mar.