Egóica

De repente me percebi egocêntrica demais. As palavras já não transbordam das fronteiras do meu Eu, infinito, múltiplo e particular. Reli textos antigos, parecia tão fácil transitar para além de mim. Ter um olhar externo para o caos que sempre me habita por dentro. Eram construções confessionais, com a licença do eu lírico para atravessar os limites seguros das verdades, ou segredos. Sempre foram o meu avesso. Sempre partiram de mim. Sempre carregavam a força ou a dor minhas. No verso, porém, existia uma camada externa que fazia do confessional um contexto fictício. Hoje as palavras se unem por motivos próprios. Carregam o peso de expandir o que já não cabe por dentro. Assim eu transbordo, mas permaneço segura nos limites do que sou. Dos insights, das reflexões, da trilha do autoconhecimento faço poesia. Compartilho a minha história com os efeitos especiais da forma, do conteúdo de uma narrativa que disfarça as verdadeiras descobertas. Na realidade, cria um sentido mais lírico, mais mágico, mais intenso. Assim deixo pegadas de mim como uma missiva ao meu futuro, de onde olharei para o retrovisor dessa vida louca e poderei me reconhecer em outra versão que já fui. É esse mesmo o movimento infinito de retorno ao Eu. Egocêntrica. Confessional. Egoísta, deixando migalhas de letrinhas para não me esquecer por esses caminhos tortuosos, passos vacilantes, de evoluir, crescer… 

*Si*

Simone Ferreira
Enviado por Simone Ferreira em 19/03/2025
Código do texto: T8289190
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2025. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.