MARIA
Maria acorda antes do sol,
varre os cacos da noite e
aquece o café que não beberá.
Carrega o peso do mundo nos ombros,
mas ninguém pergunta se dói.
Maria é aquela que não desiste,
que segura as rédeas do dia,
enquanto os outros se afundam em si mesmos.
Ela não pede, não implora,
sabe que, muitas vezes,
os braços que deveriam te alcançar permanecem vazios.
Dizem que Maria é forte,
mas forte não significa incansável.
Marias escondem um grito mudo,
algo preso na garganta,
assim como as lagrimas que seguram ou
que quando caem, secam tão rápido
antes que alguém as perceba.
Maria cuida.
Mas quem cuida de Maria?
Ela não quer troféus, nem louros,
não espera gratidão escrita em pedra.
Só anseia por um gesto, um sopro de ternura.
Um café quente pousado à beira da cama,
como quem diz: descansa, hoje eu cuido.
Um abraço que a envolva sem que precise merecê-lo,
sem que tenha que ser forte antes de ser amada.
Um olhar que não passe por ela,
mas que pare, fixe e transborde.
Porque até as rochas,
aquelas que suportam tempestades,
com o tempo se desfazem,
se não forem protegidas.