Atravessar a mim mesma

Me olho no espelho e sou um campo de batalha.

As marcas que trago no corpo são cicatrizes do que precisei romper para me reconstruir.

Cada padrão que desfaço abre um abismo sob meus pés.

Sou empurrada para dentro, para o escuro, para o lugar onde a dor dança com a lucidez.

Me percebo em fragmentos: uma parte quer o conforto do que foi, a outra grita para rasgar a pele antiga.

E no meio disso, eu, cansada, esticada entre dois mundos.

Respiro.

Por um instante, sinto o silêncio entre uma guerra e outra.

O ar pesa menos, o corpo se acostuma com o novo espaço que estou criando dentro de mim.

Existe algo diferente aqui. Um eco de liberdade.

Mas o passado me assombra, o futuro me desafia.

Me pego no impulso de voltar, de ceder, de me perder e logo depois, me agarro ao que sei, ao que aprendi, às cicatrizes que me lembram por que não posso voltar.

Quero quebrar esse ciclo, mas quebrar dói.

Dói soltar o que sempre segurou meus ossos, dói abandonar os caminhos que aprendi a andar no escuro.

Mas eu sigo.

Me arrasto, tropeço, respiro fundo e sigo.

Porque há algo em mim que já entendeu que nunca mais poderá caber na gaiola que um dia chamou de lar.

Imana Dandara
Enviado por Imana Dandara em 14/03/2025
Código do texto: T8285392
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