Invencionices

Atravessada a ponte de mágoas restou a estranheza. Essa esquisita, e persistente mania de querer entender os sentidos, e sentimentos dos bastidores da mente alheia. Levemente cicatrizada a lacuna de dúvidas tudo que sobrou foi a estranheza. Essa vontade de tomar posse de uma história que é minha, mas não me pertence. Estaria mesmo pronta para conhecer toda verdade que julguei mentira? Se toda incerteza foi infundada, o que faria com toda a estranheza que restar?

É assim mesmo, uma espiral infinita de invencionices que não tem cabimento algum. O que foi vivido na carne, nos pulsos, no sangue é passado onde vidas se encerraram para dar passagem ao novo. Marcas, cicatrizes, mentiras ou verdades, há segredos que merecem permanecer no relicário. O olhar crítico transpassa os sentimentos, deixa um gosto ácido na boca, mas já não há rancor. Somente outras dúvidas. Depois de concluir alguns processos fica a estranheza dos espaços vazios. Daqueles abismos que nenhum esforço poderá fechar. Estranho, mas é preciso costurar uma nova história a partir da certeza de que se chegou ao limite extremo. Nada mais além do horizonte. É preciso serenidade, resignação, e amor para compreender que tudo que há já está espalhado sobre a mesa. Cartas foram dadas. O jogo é esse. Existo como as minhas vazantes, não há nenhuma correnteza a me arrastar para longe de tudo que desconheço. 

*Si*

Simone Ferreira
Enviado por Simone Ferreira em 04/03/2025
Código do texto: T8277226
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