Quebrados.

Acho que chega um tempo em que tudo que importa são os detalhes, mínimos, quase imperceptíveis. Chamados por vezes de gotas, último ponto que precede um fim desastroso. Esses precisam ser notados, não se pode deixar que algo tão pequeno seja o iceberg de uma embarcação gigante que fora construída sobre tudo na percepção do que mais temos de intimo.

Não é possível que sejamos capazes de guiar tão mal algo que só tem uma direção provável. Talvez seja necessário rever as dimensões, talvez seja o tamanho real que você dá a cada detalhe.

Sei que isso pode parecer autodefesa, mas peço que coloque em cheque as medidas usadas nesse julgamento. Afinal, tudo aqui são detalhes, nada é de fato uma permanência inabalável. Cada dia será de inteira necessidade, que se atravesse esse mar de imperfeições cordialmente aceitas.

Dissemos que sim no mais pleno súbito de consciência um do outro, dali ficamos à deriva numa imensidão turbulenta de milhares de novos detalhes. Agora seremos de fato levados ao conflito, cada um com suas armas em punho na espera do primeiro passo.

Fomos trazidos no colo e jogados sem piedade, numa fenda aberta por nós com beijos e juras infinitas de compreensão. Que agora se fecha numa ríspida e fria rotina de incertezas, cabe a nós ter uma capacidade maior de reabrir-las.

Isso leva tempo e tempo é algo escasso, pra quem não sabe de onde virá o próximo ataque. Eles são camuflados de aparência suave, ilusões propositais que não nos farão querer trégua.

Vamos ficar inertes, fechados nas cavernas infestadas de armadilhas, cheios de um ego nocivo alimentando a capacidade de destruição de algo tão pequeno. Nem percebemos o quanto pode ser letal, vem de dentro pra fora como a ferrugem corroendo todas as coisas boas, até que nada tenha o mesmo valor.

Agora são só detalhes irritantes, que apontam pra erros e falhas que lentamente são a causa de estarmos quebrados de fora pra dentro. Que nada fará com que aqueles momentos de início sejam maiores que toda essa inconstância de agora.

Será uma travessia perigosa e sem pronto de apoio, cada um por si sob cada nascer e por do sol,que já não brilham tão forte. Engolidos por ondas quebrando nas margens do que antes era calmaria e paz.

Tornando impossível que seja avistado um horizonte, uma terra firme para um repouso das almas que se uniram numa só carne e sangue. Só restando pedaços, fragmentos de algo tão sólido que fora quebrado sem toque,apenas por detalhes sutis e letais.

Mostrando claramente a chegada do tempo em que só eles importam.