[Denúncia: A Memória do Corpo]

[Ah, I'm longing for those thrilling instants...]

A noite tem o tamanho incomensurável

que tem toda a solidão do mundo

juntada, enfeixada num só ser - o meu!

Liquefeito, desfeito em nada, rolo lentamente,

deixo-me escoar na frialdade da cama vazia...

Queria que o teto fosse um mata-borrão!

O frêmito daqueles nossos instantes

perdura ainda na memória do meu corpo;

o meu cérebro tenta, luta em vão para esquecer

aquela onda fria que fervilha

na pele eriçada de prazer,

como se percorrida por milhares de insetos rápidos,

ou triscada pela fugacidade de um réptil que escapa,

— uma terrível onda de excitação, prazer... e medo!

Mais do que nunca, eu sei, eu experimento:

eu vivo, eu sou, eu existo

na duração do instante,

o que a minha mente não quer mentar,

o meu corpo, implacável, denuncia!

[Quem teria coragem de viver a duração,

apenas a duração e não exigir nada mais?!

Depois do gozo, podemos até morrer...

Ou quem sabe, pensar na repetitividade da duração?!]

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[Penas do Desterro, 21 de janeiro de 2008]