UMA QUOTA DE QUOTIDIANO
É preciso mudar, né?! Olho para o espelho do banheiro, vejo minha face, (faceta afro-indígena-brasileira que carrego intensamente no meu físico e principalmente no DNA). Corto o cabelo ou deixo crescer? Deixo a barba sem fazer ou ponho só um bigode avantajado tipo, típico cubano ou um cavanhaque no estilo exu-cigano-latinlover ou uma costeleta de Elvis Presley Costello? E as unhas. Minha mãe sempre me diz para cortar as unhas senão vou ficar igual parecido ao Zé do Caixão – quando criança sempre-sempre-sempre ouvia isso dela. Ora, o Zé do Caixão é uma entidade popular cinematográfica consagrada. Bem poderia ter um pouco de sua persona grata! As unhas do pé já estão cortadas. Tiro as roupas, ligo o chuveiro elétrico. Me banho me lavo me reparo nu, desnudo, peladão! Meus pêlos pubianos estão enormes. Desligo o chuveiro. Acabo o meu banho. Pego uma tesoura para apará-los. Afinal, eu tenho uma namorada e não posso fazer feio nem ficar feio diante dela pois ela tem o mesmo cuidado e apara os pelos de sua linda xoxota regularmente para eu poder elaborar um delicioso sexo oral roçando a barba que ela mesma diz que adora quando está espessa. Volto ao banheiro porque me deu uma vontade repentina de defecar. Mas antes pego o jornal e leio as notícias de ontem ou anteontem... Sei lá...! Porém, não importa! São notícias tão atuais, tão relevantes, tão chatas! Queda do dólar, preso mais um traficante de drogas no Rio de Janeiro, caos no trânsito em São Paulo, mais uma derrota do Corinthians, vitória do Fluminense, CPIs, fim da CPMF, Cai e aumenta o índice de desemprego no Brasil e burrices e burrices no Planalto em Brasília. Sorte que tinha papel higiênico, senão eu limpava a merda na minha bunda com todas essas merdas! Agora, saio. Vou até o quintal. Estendo a toalha no varal. Ponho uma bermuda e uma camisa, camiseta, pois faz bastante calor aqui onde moro (Vista Alegre). Vou até a esquina, compro um maço de cigarros de preferência um Hollywood azul. Eh, decidi então parar no bar doutro lado da mesma esquina tomar uma cerveja. Eh, pelo menos umas quatro ITAIPAVAs, já ta bom, neh! Não vejo não encontro não pára nenhum conhecido sequer para bater um papo, contar algumas possíveis novidades, até estórinhas-de-pescador (tá valendo!), tristezas banais, nada! nada! nada! nada! Então, termino de beber o último copo, o último gole e retorno pra casa correndo iniciar o último verso dessa (prosa) porra.
FELIPE REY