Vocação
VOCAÇÃO
(para Silvia Alencar)
Liberto de mapas, bússolas e quem aponte direções
Eu caminho meu caminho e vou sem pressa de chegar
Fantasio a fantasia e o desejo de viver o meu desejo
Vou me embora pela estrada afora
Necessito estar a sós comigo mesmo
Ainda que sem rumo vou me encontrar
Viajo incessante desconhecido e muito longe
Cedo ou tarde, içar âncoras não sei
Pois não sei bem ao certo se um dia chegarei
Onde mais me contento na viagem sou poeta
Qualquer música me pesca
Versos ventos luares me atravessam e me refazem
Ao segundo que se aproxima velozmente estou contido
Ao inesperado, ao imprevisto, docemente me retenho
Sou de carne e osso e estranhos pensamentos
Como um pássaro brotado do nada
No mundo a mais de trinta anos apareci
E o que verdadeiramente meu sei de cor
Minha noite lá fora, meu verso cá dentro
E a insipiência e a aridez do meu caminho
Cujas pedras afiadas que sangram saudades em mim
Só eu ainda que exausto e dolorido posso retirar
E que quando removidas grifam marcas e ausências
Não lá no fundo do peito
E sim onde descansam meus olhos
E mora a vontade de pertencer benditamente
A uma rima desconexa ou uma prosa de ternura
Ou até mesmo a uma frase dessacralizada
Que se principiou no amanhã e findou-se nesse instante
Pois onde mais me penso saber por vocação, sozinho
Gosto mais é de cantar a imensidão do meu caminho