Confesso
Confesso que as estrelas que andam brilhando nos meus olhos
não são minhas.
Que a lua que faz escala na vidraça
pra se reabastecer de luz, não é por minha causa.
Que a roseira que invadiu o quarto, pela janela, para brindar à noite com a rosa inaugural, por mim não foi.
Que os pássaros que anunciam a aurora em clave de sol maior
não exercitam seu acordes pela minha presença nas manhãs.
Confesso
Que a celebração dos ocasos na pauta dos campanários
não é pra mim executada.
Que a tessitura marinha derramando-se na areia em acordes de espuma
não vem cantar ao meu exílio.
Que a floração constante dos gerânios em primavera antecipada
não é por mim que conspira.
Que o violino do vento cantando nas casuarinas
não lê nas tardes frias a partitura dos meus versos.
Confesso que a poesia só me visita em seus múltiplos disfarces
porque vem buscar em ti o encanto necessário.