TEMPUS FUGIT
O tempo escapa por entre os meus dedos como areia fina, aquela que parece brincar de não se prender. É um vento que insiste em atravessar as frestas, uma onda que vai e nunca volta do mesmo jeito. Tempus fugit, eu ouço, e digo também, mas às vezes finjo que esqueço. Porque o tempo, ah, o tempo... Ele é como um velho amigo que nunca se deixa conhecer por inteiro, mas que surge de surpresa para me lembrar que não posso ficar parado.
Já tentei domá-lo, confesso. Conto as horas, os minutos, até os segundos, como se pudesse mantê-lo sob controle. Tenho relógios espalhados pela casa e dispositivos que piscam números exatos. Mas ele não liga. Corre solto, livre, como criança descalça correndo pelo quintal. Não espera pelo meu chamado, não ouve minhas reclamações. Não é meu, nunca foi, mesmo que eu insista em acreditar que posso possuí-lo.
E eu? Eu brinco de aproveitar. Às vezes até desperdiço. É engraçado, não? Fico sentado no sofá, deixando tardes preciosas escorrerem, porque acredito que ainda tenho muitas pela frente. Mas quando olho para trás, o que vejo? Fragmentos. Retalhos de memórias costuradas às pressas. O sorriso de uma manhã qualquer, o cheiro do café que me acordou, o calor de um abraço que talvez eu não sinta mais.
Tempus fugit. E me pergunto: estou fugindo com ele ou dele? Eu vivo nessa contradição. Tem uma urgência em mim, uma pressa em viver, em amar, em ser. Mas, ao mesmo tempo, existe essa vontade de parar. De simplesmente sentir o agora, sem me preocupar com o depois. Como um pássaro que quer voar alto, mas que também deseja descansar no galho por um instante. O tempo me empurra para frente, mesmo quando tudo em mim quer ficar.
Talvez o segredo esteja em aprender a dançar com ele. Não tentar agarrá-lo, mas seguir o ritmo. Deixar que ele passe, sim, mas preenchendo-o com algo que faça sentido para mim. Um olhar demorado, uma gargalhada espontânea, uma conversa tão boa que atravessa a noite sem pressa de terminar.
Tempus fugit. Mas enquanto ele foge, eu escolho ficar. Fico na lembrança de quem amo, nos rastros das minhas escolhas, nas marcas que deixo ao passar. Não posso segurá-lo, eu sei. Mas posso moldá-lo. Dar-lhe formas únicas, imperfeitas, que sejam só minhas.