O Condor e as Aves da Rampina

Sob o vasto manto azul, costurado por fiapos de nuvens dispersas, elevava-se a calaga das montanhas, onde o silêncio ecoava entre as pedras e os penhascos vertiginosos. Ali, o condor reinava. Seu voo, sereno e altivo, narrava histórias ancestrais, enquanto o vento rugia como o lamento de um povo esquecido.

Mas o condor, essa criatura feita de asas e solidão, sabia que seu reino estava sob ameaça. As aves da rampina, furtivas e implacáveis, vinham de longe, suas sombras sinuosas recortando os raios do sol. Não carregavam em seus olhos a sabedoria dos antigos, mas sim uma voracidade impiedosa que rasgava o equilíbrio entre a vida e o caos.

O condor resistia. Cada bater de asas era um grito mudo, uma melodia de dor e perseverança. Mas, no fundo, ele sabia que a luta contra o inevitável tinha um peso trágico. As aves da rampina não podiam ser ignoradas; sua presença trazia consigo a lembrança amarga de que até mesmo os céus podem ser profanados.

Um dia, quando a luz do entardecer tingia de sangue os cumes gelados, o condor foi derrubado. Aves menores, mais ágeis e traiçoeiras, desceram sobre ele como uma tempestade. Seu corpo, tão majestoso nos ares, agora era fragmentado na dura pedra.

Mas algo peculiar aconteceu. As aves da rampina silenciaram ao redor de sua carcaça. O vento sussurrou um segredo antigo, e as nuvens recolheram-se como testemunhas humildes da tragédia. Elas perceberam, mesmo tardiamente, que ao destruir o condor, desmoronaram a essência que sustentava aquele céu, aquele mundo.

O voo do condor não era apenas domínio. Era identidade, uma luta eterna por algo maior que ele mesmo. Sua queda ecoou nas encostas, um epitáfio cantado pelo vento, lembrando a todos que, no manto da criação, mesmo o mais forte encontra seu fim... mas também deixa seu legado nas correntes de ar e nos olhos de quem ousou sonhar tão alto quanto ele.