O Sul também existe
Mundo de exilados, dores e alegrias neste sul que também existe, levantamos o silêncio, somos um mar de sobreviventes, as sirenes dos barcos anunciam o choro dos rios enquanto esses desafios furtivos beijam esse ódio que respira a conta gotas,
Dormem as ruas com essa madurez insensata, homens e mulheres se nutrem da inútil opulência desse céu de neon abstrato enquanto o tempo desfila suas poucas esperanças,
Mundo de exilados que insisten na falsa doçura do tédio, histórias carregadas de bondade endêmica, quimeras é misericórdias que sorriem na imunidade do rancor,
Neste sul também existe essa obsessão indivisível de cores é ternuras, de espaços e dúvidas sobre o destino, ninguém suspeita dessa inexorável urgência de sonhar e poder imaginar que existe no perfeito horizonte algo mais que sorte e azar,
Somos feitos de espanto bruto, de candor e desprezo, carregamos um futuro de antigas conjunturas, temos um fervor secreto cheio de ruínas eternas, implacáveis e duvidosas,
Carregamos a solidão com seus medos,
Rostos sem máscaras,
Somos órfãos do assombro com projetos e receios...