Poema de crise

Quando cheguei aqui já estava rolando tanta coisa,

não sabia muito bem para onde olhar

passei uns 20 anos tentando não virar o rosto

tentando me esquecer, tentando me apagar, tentando me matar porque eu não conseguia caber também nesse lugar.

Fui atrás de Mulleiros para tentar me curar,

eles causaram e causam tantas feridas, como assim não vão me cuidar?

Rondei demais a procura de pais, a procura de salvação, de pertencimento, de identificação,

Queria escrever pra Rondon, mas não tenho tantas coisas boas a dizer.

Afinal sou resultado do que ele vestiu

Então não posso me atrever a fazer.

Foram pais, possuidores de tantos filhos chicoteados,

donos de tantas águas,

eu só queria beber e brincar em um igarapé dentro da Várzea Grande que tínhamos.

éramos tantos, corríamos livres até sermos aprisionados e sufocados Fortmente.

Tiraram nossas bocaiúvas para dar lugar a Mmensuração, Rrelato e Vverificação.

Não tenho lembranças dessa terra, mas de alguma forma ela conversa com a minha.

Ela dança e canta como a minha, ela sofre como a minha,

ela resiste com Cuiabanias.

Queria viver sem ser filmado,

queria morar sem ser violentado,

queria respirar sem medo, me expressar cumvontade,

andar sem sombreiro,

não me preocupar com a ‘verdade’.