Asas eu tenho

Há algo ali que nunca foi dito, nunca foi feito. Tudo apenas imaginado, tudo revisado dentro da fantasia confortável e segura. É curioso como a segurança pode coexistir com o medo — o medo que paralisa, que te prende a cálculos incessantes sobre riscos e consequências. As pernas não se movem, os braços não se abrem, e o sorriso que deseja escapar é reprimido pela possibilidade de, em vez de alegria, trazer tristeza. Assim, a vida se torna um ensaio cauteloso, onde nada acontece além de pensamentos que dançam em círculos, sem sair do lugar. Mas quero parar. Parar com essa segurança que sufoca. Quero pular do edifício que minha mente ergueu, tijolo por tijolo. Quero sentir o vento da ousadia batendo contra o meu rosto e sorrir com todos os dentes, porque, mesmo com a chance de o impacto do asfalto me atingir, por um segundo, não estarei caindo: estarei voando rumo às possibilidades. Asas? Eu já as tenho. Só preciso confiar nelas.